Depois do belo passeio em Ushuaia, um dia com um pouco mais de estrada e aventura em direção a Punta Arenas no Chile, com previsão de rodarmos 622km. Punta Arenas está em uma das regiões mais inóspitas e encantadoras do planeta, onde tudo gira em torno da natureza, da paisagem gelada do mítico Estreito de Magalhães e do Canal de Beagle. Como era dia de semana, as aduanas nas fronteiras estavam bem mais tranquilas que na ida.
Próximo a Rio Grande finalmente os ventos apareceram em maior escala. Comentei que em Cerro Sombrero o posto além do horário de almoço, tinha uma placa informando que fechava das 15 até às 15h30 para lanche.
Ali no rípio, diversas obras de “asfaltamento” (no Chile eles fazem cimentação das estradas, sistema bem interessante) já apresentavam bons trechos onde para variar os brasileiros “espertos” furavam os pequenos bloqueios e passavam para essas novas pistas ainda não abertas ao trânsito. Inicialmente relutei, mas como todo o grupo passou para o asfalto e vendo que iria ficar para trás, acompanhei-os. Após rodar alguns quilômetros, um funcionário da estrada nos abordou e fez retornar ao rípio. Logo chegava novamente o asfalto e vi que já era próximo das 15 horas e resolvi acelerar para chegar ao posto de gasolina antes do fechamento. O Posto pertence à Copec, estatal argentina distribuidora de combustível e quando me aproximei, faltavam 10 minutos para as 15 horas. O responsável me viu e colocou um cone na frente da bomba. Não me fiz de rogado e estacionei entre o cone e a bomba. Ele iniciou o abastecimento de um caminhão da Prefeitura local e vi que demoraria um pouco. Logo o grupo chegava e parou atrás de mim. Pois o “velho fdp” responsável pelo posto, faltando 3 minutos para fechar, trancou a porta e partiu em direção à caminhonete. Sou um cara que procuro ser tranquilo porém, como já previa essa molecagem, dei um berro: “Po…, cheguei 10 minutos antes do horário, car….”. Ele comentou que estava ali desde às 6 horas e precisava se alimentar. Relaxei e além do nosso grupo, chegaram também dois chilenos em GS1200 que puxaram conversa. Estavam rodando em direção ao Brasil, iriam a Florianópolis e depois ao Rio de Janeiro. Acho que meu estado exaltado surtiu efeito, pois em 15 minutos ele retornou do lanche.
Abastecemos e partimos em direção a Bahia Azul para atravessar o Estreito de Magalhães. Nesse trecho os ventos chegaram com muita força. Observei isto pois os chilenos me passaram e suas motos tinham uma inclinação próximo a 45º. Além disso, esses ventos tinham rajadas que desequilibravam as motos, quase jogando-as ao chão.
Chegando ao local de embarque, longa fila se formava, pois estava suspensa temporariamente a travessia de balsas pelo Estreito em virtude da força do vento (mais tarde, enquanto nos esperavam, o Carlos esteve na ponte de comando e foi informado que com a velocidade dos ventos até 100km/h eles faziam transporte de veículos, porém os sistemas informavam ventos de 120km/h e rajadas de até 160km/h). Chegamos antes das 16 horas e às 18h15 aproximadamente vieram novas balsas. Existiam 3 filas de veículos, com carros, motos e caminhões. Começaram o embarque com alguns automóveis, depois alguns caminhões e naquele momento havia mais de 40 motos. Ao iniciar o embarque das motos, na descida o mar batia com força e alguns vergalhões apareciam na plataforma de acesso (acredito que com a força do mar as balsas a destruíram). A balsa de repente iniciou a saída e muitas motos ainda ficaram. Duas motos que estavam na rampa de cimento, não conseguiam retornar, então a balsa voltou e assim que elas embarcaram, partiu.
Vimos então que outra balsa estava chegando ao píer à frente. Todas as motos partiram então e se posicionaram para embarque no novo píer. Ali, embarcaram dois ônibus e os passageiros desceram a pé. Quando achamos que seria nossa vez, o funcionário que estava encarregado de controlar o embarque saiu correndo em direção a ela e partiram. Nesse momento o vento estava fortíssimo novamente e soubemos por um motorista que estavam suspensos novos embarques até a melhora do vento.
Para nossa sorte tinha um ônibus e um caminhão parados e todas as motos estacionaram atrás para ficar protegidas dos ventos. Então realizamos o “1º Encontro Motociclístico de Bahia Azul”. A Renata (esposa de Alessandro) tinha café instantâneo e conseguiu água no ônibus ao lado. Como fazia muito frio, tinha uma garrafa portátil de whisky que repassamos ao grupo. Outro apresentou biscoito (pois àquela hora a fome era grande), enfim tornamo-nos amigos. O contato maior foi com o Bruno que viajou de São Paulo com um amigo que caiu em travessia de ponte em Lapataia, e retornou ao Brasil deixando sua moto na casa de amigo.
Mais tarde, uma balsa tentou por diversas vezes parar para descida de veículos sem sucesso. Somente às 11 horas da noite o serviço de balsas voltou a funcionar. Achamos que o grupo tinha seguido viagem, porém estavam todos nos aguardando. Foram mais de 7 horas de espera. Como o vento continuava muito forte, ficou combinado de o Carlos seguir na frente das motos. Faltavam ainda 210 km para chegar a Punta Arenas. Ventos fortíssimos fizeram o grupo separar-se um pouco, pois cada um administrava o controle da moto nas fortes rajadas que deslocavam as motos. O frio era intenso e a moral do grupo ia reduzindo. Na frente, o Carlos parou no entroncamento das estradas para Puerto Natales e Punta Arenas. Ali, ventos provenientes dos dois lados empurravam as motos.
Perguntei ao Carlos e soube que Alexandre tinha parado com medo de acidente. Parei a moto e fui jogado para o lado direito. Apoiei o pé e novo vento me jogou para o lado esquerdo. Consegui colocar o pé no chão novamente e resolvi baixar o descanso. Nesse momento que estava com o pé elevado, nova rajada e tentei apoiar o pé, porém sem sucesso. Adquiri ali um belíssimo terreno no Chile. Logo me ajudaram a levantar a moto e, ao subir, nova rajada quase me jogou novamente ao chão. Avisei que ia seguir viagem e Mateus também me acompanhou pois quase havia caído também. Chegamos a Punta Arenas num frio intenso e às 2h30 da manhã. Logo o grupo também chegava. Em Torres del Paine, uma mochileira brasileira (Marcia, moradora de Brasília), comentou que nesse dia a força do vento tombou um ônibus com 40 passageiros machucando muitos deles.
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