América Central, Costa Rica
San Jose – Jaco (Parcial = 82 Km / Total = 38.145 Km)
07:00 h da manhã, Escazu já estava agitada. O trânsito ainda estava tranquilo no meu sentido e aproveitei para seguir direto para a carretera pedagiada que leva a Caldera, antes que ficasse intransitável. Já sabia que existiam algumas retenções ao longo da estrada. Sol brilhante, ar fresco e estrada livre, tudo de bom. A estrada corta a floresta, em curvas suaves, e logo vem o litoral.
Segui diretamente para Jaco. Vaguei um pouco pela cidade e fui até a praia, procurando hotel. Uns excelentes e muito caros ($100.00 USD) e outros péssimos e caros demais ($40.00). Resolvi voltar, na estrada, até a Playa Herradura, que é menos famosa do que Jaco, considerada o paraíso dos surfistas, na Costa Rica.
O povoado é muito menor. Mas, encontrei o mesmo problema, não combinava com o meu orçamento. Minha expectativa de descansar um pouco à beira mar iria ficar para traz, como ficou a minha ida a Limón – também um paraíso da natureza, na costa caribenha.
Voltei à estrada com a decisão de pernoitar em Ciudad Neily, próximo à fronteira com o Panamá. A estrada singrava pelo verde da floresta e vez por outra tangenciava o azul do mar.
Parti cedo, sem alimentar o corpo. Mas, a paz e a beleza do litoral da Costa Rica me alimentavam o espírito.
Parei algumas vezes para tirar umas fotos – por aqui esse simples ato não exige ousadia – para postar no blog.
Já estava no ritmo de estrada, quando, um pouco antes de uma curva, a uns 10 km após Jaco, avistei o Hotel Vista Hermosa, à beira mar. A estrutura simples e bem harmonizada com a natureza me fez parar. Estacionei a Electra sob um coqueiro e fui procurar a administração. O proprietário, Don Miguel, muito gentil, me recebeu pessoalmente e foi me mostrar o apartamento; simples e aconchegante, com o suficiente conforto que precisava, além de ter Wi-Fi. Expliquei que não tinha muito dinheiro e lhe falei da minha viagem. Então, acordamos $40.00 USD a diária. Fique tão satisfeito com a recepção e feliz com a beleza do lugar, que resolvi presentear o meu anfitrião com um Boné do Brasil, que o meu amigo Marcos Balaciano, me enviou através da Claudia, minha esposa, na ocasião de nosso encontro nos EUA.
Depois que me alojei no apartamento, nos sentamos e conversamos bastante sobre a minha viagem e os seus momentos mais críticos. Então, ele comentou que admirava muito as pessoas que tem essa disposição, porque no fundo, uma grande viagem é o sonho de todo ser humano. Mas, concluiu que para muitos falta a coragem ou a oportunidade para realizar. Emocionado, disse que a minha estadia em seu hotel, durantes 2 dias, seria cortesia e que se sentia honrado em que eu estivesse lá. Não pela cortesia, mas principalmente pela sintonia de sentimentos, percebi que estava ali mais um amigo.
Fui até a Electra arrumar algumas coisas, quando se aproximou um hóspede, o Danilo, acompanhado de sua esposa Maritza, costariquenhos, que estavam passando uns dias no hotel com uns amigos. Muito amistosos, vieram conservar comigo sobre a minha bela motocicleta. Fiz um resumo da aventura e comentei que já tinha emagrecido quase 10 kg, porque já houve dias em que toda comida foram barras de cereal e água. A Maritza exclamou: Que beleza! E morremos de rir, sem necessitar outras explicações. Em seguida, muito gentil, ela me convidou para comer arroz com ovos. Nesse momento, me veio na memória o taxista, em San Francisco, que ficou triste quando não aceitei a sua cortesia – não queria cobrar a corrida para ajudar na viagem. Imediatamente, lhe respondi: com mucho gusto. E realmente, o almoço foi uma delícia, acompanhada de limonada e um aperitivo especial que o Danilo me ofereceu para abrir o apetite; uma dose de Ballantines rótulo azul – não sei quantos anos.
Durante o almoço, conversamos muito sobre a viagem. Quando comentei que gostaria de ter ido a Limón, disse que fica no litoral caribenho e é um local muito bonito. Mas, a cidade está ficando perigosa, devido ao grande desemprego. Informou que por lá, a saída da Costa Rica é através do Paso Xicsaola e se entra no Panamá, através de Boca del Toro, sendo as estradas muito boas.
Danilo partiu, Don Miguel foi tirar uma soneca e eu fui caminhar na praia quase deserta. Enquanto as ondas batiam forte no mar e as araras vermelhas gritavam por seus pares, no topo das árvores, eu enchia a minha alma com a beleza da natureza, a fim de expulsar os resquícios de experiências ruins que ainda me faziam mal.
À tardezinha, veio aquela chuvarada e lavou o mundo. Finalmente, realizo um desejo simples, que pensei não poder realizar, que é ficar em paz em um lugar tranquilo e bonito, entre a selva e o mar: Playa Hermosa, de areias negras, coqueirais, vasta vegetação e mar imenso. Neste pequeno pedaço de paraíso, Don Miguel e seus hóspedes não percebem o tempo passar.
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