Kingman – Santa Bárbara – 34º dia

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América do Norte, California, USA

Kingman – Santa Bárbara (Parcial = 670 Km / Total =16.357 Km)

Antes de partirmos de Kingman, às 07:00h já estávamos tirando uma foto no setor Historic Route 66, como antidoto para o esquecimento, caso algum dia a memória falhar.

 

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Aceleramos as Electras pela I-40 sob um céu azul sem nuvens e com o sol pelas costas, seguindo no rumo oeste.

O deserto californiano nos recebia como nas manhãs anteriores; com o ar ainda frio, mas prometendo muito calor.

Na estrada perfeita e já muito movimentada, os veículos passando velozes. Entramos no fluxo, em um ritmo forte, com os motores girando em torno dos 3.000 giros, atentos aos carros policiais. A dica é nunca ficar na faixa esquerda, utilizando-a exclusivamente para ultrapassagem. Assim, ficamos sempre na sombra de algum caminhão, inacessíveis aos radares e aos olhares experimentados, como fazem todos os carros que passam por nós.
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Após algumas horas atravessando o deserto, o som do impacto do vento no capacete e o ronco grave do motor enchem a minha mente com uma sinfonia monótona, que faz os ouvido desligarem. O turbilhão de imagens chega veloz, invadindo-me pelos olhos, e o carrossel de nuances da mesma cor amarelada atenuam a atenção, me levando a divagar, transportando o pensamento para além do aqui e do agora. A consciência se ausenta e o inconsciente assume os comandos da Harley, planando a 130 km/h. A mente vagueia em outro tempo, lugar ou dimensão. De repente, volto não sei de onde, e me vejo ultrapassando com precisão um grande caminhão. Assim, vou seguindo, indo e voltando a estrada, talvez porque uma parte de meu coração esteja ancorada em outro lugar.
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Observo a minha volta e percebo que a geografia começa a ficar mais interessante. A pradaria começa a ser alterada por pequenas elevações, anunciando as montanhas, que estão por chegar.

Passamos Needle, onde deveríamos abastecer. Mas, estamos tranquilos porque os galões de 8 litros de reserva de combustível amarrados as pedaleiras das Harleys estão cheios.

Uma placa da estrada anuncia a aproximação de Ludlow e outra vez não vamos precisar do galão.

Paro a moto em frete a bomba numerada, entrego o cartão de crédito a moça da caixa registradora e eu mesmo coloco gasolina no meu tanque. Em algumas circunstâncias, não há ninguém tomando conta do posto e não há caixa. Tudo é resolvido pela bomba automatizada e o cartão de crédito, e saio com o tanque cheio – isso é que é modelo de civilização.
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Do centro do Deserto de Mojave, em Barstow, as montanhas já nos observam ao longe, aguardando as Harleys passarem.

Mais tempo na estrada, subimos e descemos a montanha, com grandes curvas sequenciais; e no final, como sempre, a estrada se crava no horizonte, como se nunca fosse acabar.
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Passamos por San Bernadino e em Passadena a estrada crias 5 faixas. Em suas margens, o alto padrão de qualidade americano; com bairros com belas residências, muitos jardins, amplas avenidas e elegantes e futurísticos prédios comerciais.
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Na descida para o nível do mar, um breve engarrafamento nas cinco faixas nos testa o padrão de civilização; heroicamente, ignoramos o largo “corredor” que nos atrai: “Faça como na Linha Amarela. Vem irmão!”.
Mais a frente, estamos desfilando à beira mar. O clima está agradável. Ultrapassamos um trem do HOG local, de mais de quarenta Harleys, próximo a Santa Barbara, onde vamos pernoitar.
Olho no retrovisor e noto o Betho retorcido na moto, pilotando apenas com uma das mãos e imagino a dor insuportável que deve estar sentindo na coluna vertebral. Tudo indica que as experiências com as aduanas na América Central, os Narcos no México e a intensa dor na cervical, muito desgastada pelos tempos de práticas judô e jiujitsu, já o convenceram a voltar ao Rio de Janeiro, a partir de Sturgis, onde nos separaremos.
Na estrada, sem GPS, a navegação é feita em função das placas. Passavam placas de tudo que é santa: Santa Ana, Santa Lucia, Santa Clara, Santa etc e tal. Só não aparecia a placa indicativa de Santa Barbara.
Já exasperado, faço sinal para o Betho para pararmos em um posto de gasolina e perguntar. Quanto estaciono a moto no posto, olho para frente e lá na rua lateral está a primeira placa que vemos, indicando a direção de Santa Barbara. Ufa!
Já no hotel, ligo o notebook, abro o Skype para cantar parabéns pelo aniversário da minha mulher (Claudia), que para mim continua a fazer 16 anos, pois o sorriso que me encantou então, ainda é o mesmo. Na tela do computador, vejo a minha família feliz, em volta dela; isso me dá paz de espírito e sossego ao meu coração para continuar essa maravilhosa viagem de moto e superar o que vem pela frente: o medo contagiante das pessoas e uma dose regeneradora de solidão.

PHD Artur Albuquerque
Fonte: http://phdalaska.hwbrasil.com/site/ e http://www.phd-br.com.br/


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